sábado, 17 de março de 2012

Rubens Ewald Filho: ‘Um Violinista no Telhado’ é das melhores ou a melhor montagem de musical americano feita por aqui”


Crítica de Um Violinista no Telhado, por Rubens Ewald Filho:

Não há dúvida que Fiddler on the Roof é uma obra-prima, está entre os cinco melhores shows da “musical comedy”. É um primor de estrutura dramática, de canções de qualidade, de diálogos inteligentes e divertidos, da arte de contar uma história por definição polêmica e que poderia ficar restrita aos que se refere (mais claramente aos integrantes da colônia judaica), mas que consegue transcender e falar de qualquer povo em qualquer situação, até porque no fundo somos todos iguais e sujeitos aos mesmos problemas.

Faz rir, faz chorar, não foge da denuncia dos problemas, mas sempre de forma humana, sem exageros. Para aqueles que acham que musical só fala de bobagens este é um texto que aborda perseguição religiosa e política, faz crítica de costumes ao mesmo tempo em que o louva (já que a tradição mantém o povo unido ao mesmo tempo impede a evolução das mulheres), que tem romance e realidade.

As três filhas do protagonista Tevye terão casamentos atribulados, com um alfaiate pobretão (e não o velho rico), com um engajado político que será banido para a Sibéria e ate mesmo um russo, ou seja, de outra origem (que os estão perseguindo) e religião. Mas o entrecho é muito bem resolvido, cheio de personagens incidentais interessantes e um tom cálido, carinhoso.

Fiquei impressionado com o sucesso da montagem da dupla Botelho e Möeller no Rio de Janeiro, onde ganhou muitos prêmios, mas não tive a chance de assisti-lo por lá. Embora ache que a dupla é brilhante e faz os melhores musicais do teatro brasileiro (ainda mais porque lhes dão sempre um toque autoral) concordo que Um Violinista no Telhado, em cartaz no Teatro Alpha, é também a obra-prima deles.

É um espetáculo praticamente perfeito, emocionante, belíssimo e que vejam que interessante, revela José Mayer como um excelente ator de teatro, dono de uma voz linda (como ele escondeu isso?). Ele era daqueles atores que nunca faz nada errado, confiável, mas supera seus limites e a nossa expectativa com uma interpretação pessoal (não imita ninguém, cria sua maneira própria) e que se torna inesquecível.

Botelho e Möeller fizeram um trabalho primoroso, escolhendo um elenco de primeira linha (sem falhas) que canta e dança bem,
que interpreta com verve”




José Mayer passa a fazer parte da lista restrita de grandes atores brasileiros agora também no teatro. Durante muitos anos a montagem padrão de Violinista tem sido aquela inspirada na pintura de Chagall ou seguindo o filme.

Botelho e Möeller fizeram um trabalho primoroso, escolhendo um elenco de primeira linha (sem falhas) que canta e dança bem, que interpreta com verve um show que tem tudo para ser longo demais. Mas que sempre encanta, sem procurar efeitos fáceis (embora tenha sacadas bacanas como o trenzinho, a ponte que os leva para fora da cidade, o gancho para o intervalo).

Naturalmente eu fico feliz em reencontrar no espetáculo amigos com quem eu trabalhei ou convivi antes e nem sempre vi seu talento reconhecido. Como Luiz Carlos de Moraes (fez Drácula comigo) que está ótimo como o chefe do exercito tzarista, um primor de ironia. Ou Sylvio Zilber que faz o açougueiro viúvo e pretendente. A querida Ada Chaseliov como a casamenteira. Ou o Germano Pereira estreando em musical como o russo Fyedka.

Reverencio ao talento dos amigos, mas parece injusto não louvar todo um elenco tão harmonioso. É claro que tenho momentos preferidos, a cena do casamento é especial (o tempo passou e a gente nunca percebe) assim como é encantadora quando Tevye pergunta a mulher se ela o ama? (o casamento foi arranjado).


E a presença do menino (símbolo) que toca violino no alto de um telhado, tentando se equilibrar precariamente como todos nos fazemos na vida. Falei em obra-prima e realmente as versões de Botelho estão perfeitas, a direção de Charles inspirada, e foi muito inteligente por parte da Conteúdo Teatral (do Teatro Folha) chamar a dupla para montar espetáculo tão emblemático e ambicioso.

O curioso é que acompanhei o trabalho do meu amigo Claudio Erlichman, desde quando ele fez os primeiros contatos com os donos dos direitos da peça (e há mais tempo ainda quando me disse que era fã do Claudio Botelho e iria procurá-lo pensando em trazê-lo para o Folha. O que acabou resultando neste feliz encontro de produtores). Certamente das melhores ou a melhor montagem de musical americano feita por aqui. Confiram.

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